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Há ligações entre Crime e castigo e os anos quando o autor passou na prisão. Pessoas (e atitudes) com quem Dostoiévski se relacionou na prisão teriam servido de base para alguns de seus personagens.
O autor russo teria notado: muitos dos camponeses que estavam encarcerados eram pessoas calmas e dóceis mas que, por algum motivo, em algum momento, perderam a paciência e cometeram um crime, como se tivessem bêbados, em delírio, como se, em um dia tivessem atravessado o limite do sagrado.
Mas tão logo o acesso de fúria e delírio se passa, o criminoso se acalma e rapidamente retoma sua natureza dócil, original. É esse o modelo de Raskólnikov, embora ele não seja camponês, estando mais na condição de educado, de um intelectual.
Segundo Joseph Frank, biógrafo do autor, não é tanto o assassinato em si que desencadeia o delírio de Raskólnikov, mas a ideia de “ultrapassar o limite do sagrado”.
Cometendo o crime o até então reticente estudante exibe raiva e ódio provocantes por todos aqueles que possam suspeitar dele e mesmo por aqueles que o auxiliam.
Parece tronar-se uma outra pessoa, demonstrando uma vigorosa arrogância que surpreende até ele mesmo. “O que acontece a Raskólnikov é uma contrapartida moral-psíquica exata da transformação dos presos que se enfurecem contra todos”.
A decisão por matar a velha agiota, por sua condição de má, cruel e desumana, é justificada não por uma repulsa moral que demonstrasse repugnância da velha. Rascólnikov se convence da inutilidade da vida da agiota, sendo levado por um motivo utilitário e não, como se disse, moral.
É esse o critério a confundir o jovem, a decidir pelo assassinato para salvar seu projeto de terminar seu curso superior e para salvar a vida de sua família. Crime que seria compensado ao devotar o resto de sua vida a praticar boas ações, cumprido suas obrigações para com a humanidade.
Segundo Joseph Frank, é esse conflito entre o castigo moral de consciência e a nova moral utilitária que confunde Raskólnikov e molda a forma como Dostoiévski descreve a personalidade do protagonista do romance.
O utilitarismo
O utilitarismo egoísta é uma corrente filosófica, defendida na época por Tchernichévski, com quem Dostoiévski polemiza na década de 1860. O primeiro popularizou a ideia segundo a qual o critério supremo da moral era a utilidade. Os homens buscavam, portanto, o que lhes davam prazer e satisfazia seus interesses próprios, egoístas.
No entanto, como os homens são também criaturas racionais, descobriram que a utilidade suprema consistia em identificar seus desejos pessoais com o bem-estar da maioria de seus pares.
Finalmente, os radicais utilitaristas defendiam que apenas eles tinham a fórmula para a felicidade geral.
O personagem central do romance é usado para ridicularizar o utilitarismo. Este teria sido a causa de muita confusão e levado, na Rússia, jovens estudantes a cometerem crimes, acreditando que sua ação levaria à mudança da sociedade para melhor, uma vez que se julgavam os escolhidos e que seu projeto era o melhor para todos.
Raskólnikov pode ser identificado como o protótipo disso. O utilitarismo teria obliterado de tal maneira a linha entre o bem e o mal, que poderia levar um jovem idealista sensível, revoltado com o sofrimento e a injustiça, a cometer um crime brutal.
Portanto, a natureza utilitária em Raskólnikov fornece a justificativa: pode-se matar um ser inútil por uma fortuna, desde que ela fosse usada para o bem. Assim, era possível passar por cima de qualquer ditame da consciência, diante da utilidade ninguém seria afetado por reguladores morais.
Há, no personagem central, um conflito latente entre o desejo de mudar o mundo para melhor, a qualquer custo, e os velhos imperativos da moral cristã, sempre presentes nas obras do autor.
Crime e castigo foi escrito, portanto, dentro do clima ideológico da Rússia de meados dos anos 1860. Dostoiévski criou o personagem Raskólnikov para exemplificar os perigos do radicalismo egoísta.
Os traços morais do caráter do personagem exemplifica o embate entre, de um lado, a bondade instintiva, a compaixão e a piedade e, de outro, o egoísmo orgulhoso dos radicais russos, chamados pelo autor de niilistas.
O grande mistério do romance está nos motivos do assassinato cometido pelo personagem central. De um lado, o próprio Raskólnikov não entende por que motivo cometeu o crime e, de outro, toma consciência de que o propósito moral, que supostamente o teria inspirado, não podia explicar sua conduta.
O desenrolar da trama
Logo no início do romance aparece em Raskólnikov o conflito entre sua intenção de matar e a resistência de sua consciência moral contra tirar uma vida humana.
Conforme avança, o Raskólnikov do início, um estudante sensível aos infortúnios, aos sofrimentos, dá lugar a outro personagem, frio e egoísta, indiferente e desdenhoso, insensível aos infortúnios que haviam estimulado sua piedade.
A sua transformação se inicia quando começa a pensar no crime e, mais ainda, após cometê-lo. No entanto, essa transformação é passageira e, tão logo recupera sua consciência anterior, após os delírios pelos quais é acometido, associado simbolicamente pela dialética utilitarista, volta a seu estado anterior.
O que domina no personagem central, esclarece Joseph Frank, são as angústias e a força de consciência mesmo em meio a uma luta violentamente, egoísta, para manter a liberdade, e que o verdadeiro motivo do estudante foi unicamente testar se ele era, de fato, um piolho insignificante como os outros, se era uma trêmula criatura ou se tinha o direito de matar, se estava acima da lei moral, por se considerar um ser extraordinário, um Napoleão, em contraste com a maioria das pessoas, apenas ordinárias.
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