Por Iramar Barros. Historiador, literato e professor
Passando em uma rua da cidade, opaca, insalubre e sem movimento, sentindo a estranheza do não habitar, deparei-me com uma frase escrita a garranchos no velho muro que pouco separava a estrada da propriedade sem cuidados, que me chamou a atenção: “Nós somos o que vivemos!”.
Fiquei matutando, então, sobre o que vivi e aí senti o peso da memória, pois esta me remetera à minha infância e ao sertão que pouco vivi, mas que tenho as melhores recordações, principalmente à casa de meus avós paternos, lá pelas bandas do “Poço Comprido”.
Comecei a rememorar o meu sertão com aquela casa-grande, açude grande, currais lotados de bovinos, equinos, caprinos e galináceos, com rio cheio e abundância à mesa, o que me enchera de regozijo, me abrindo um sorriso gostoso que me acompanhou por um bom momento amparado em minhas lembranças. Tudo pra mim era alegria, naquele lugar que tinha a magia da doçura, da tranquilidade e da paz.
Como são boas nossas lembranças, quando não colocamos nela a maldade, o egoísmo, a dúvida e as asperezas que a vida insiste em nos direcionar, quando nos deparamos com a competitividade que a vida adulta nos apresenta, nesse tempo de disputas por espaços cada vez menores da vida em sociedade.
Sentimentos e adjetivos que, graças à memória de uma infância serena e feliz, são contrapostos e não nos tornam pessoas frias e sem brilho e, sim, amáveis no aspecto do trato e da solidariedade ou mesmo nos mostrando o que realmente somos, ou seja, pertencentes ao espaço da sociabilidade e das nossas heranças culturais, emocionais e espaciais.
A casa de meus avós era pequena: o curral poucas vaquinhas, o açude um pouco maior que uma lagoa. Não tinha essa abundância de alimentos, mas, ali reinava a felicidade.
Para mim, hoje rememorando, vejo que a grandiosidade que eu achava que lá existia, consistia na minha felicidade de lá estar, o que fazia com que tudo se mostrasse grande e farto, pois no meu pensamento de criança, tudo era o suficiente, porque lá eu era feliz, na simplicidade daquele torrão sertanejo que me formava e me constituía como pessoa, com suas peculiaridades me fazendo absorver o que acreditava ser o melhor para o futuro, ser um homem digno de representar meus ancestrais.
Ainda neste pensamento nostálgico, sou presenteado com a leitura de um poema do acadêmico Francisco Kleber Viana Torres, que fez aumentar a serenidade do meu dia, reativando mais ainda em minha memória alguns espaços vividos no sertão de meus avós.
Fiquei a pensar, quantas e quantas pessoas não tiveram ou revivem essas memórias, quando aguçadas pelas emoções do poeta. A memória nos trás nostalgia, quando buscada na intencionalidade de nos fazer bem.
A poesia nos proporciona esse bem-estar, aliada à memória e à vida de uma infância feliz. Que sintam a paz que senti ao rememorar a minha infância aguçada numa frase de muro, como também senti ao ler esta obra do poeta carregada de emoções!!!
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