Ivan Turguêniev (1818-1883) compõe junto com Dostoiévski e Tolstói a tríade representativa do romance russo da segunda metade do século XIX. Na sua obra encontramos alguns tipos característicos da Rússia daquele tempo, modelos construídos, muitas vezes, com base em pessoas reais: o camponês ou mujique, a mãe despótica, o senhor latifundiário, a mocinha altiva e destemida, o jovem de ação, o homem supérfluo e o niilista.
Conflito geracional
O aparecimento de Ana Serguêievna Odínstova, espécie de
mulher fatal, leva Bazárov, orgulhoso por enjeitar os ideais românticos, a
atacar a mulher, considerando-a ser mesquinho, a colocar em xeque as suas
próprias convicções, ao apaixonar-se, contra sua vontade, por ela.
O seu
niilismo parece não se sustentar diante de forças naturais. Desta forma, vive
um paradoxo: defender suas ideias ou dar vazão aos seus sentimentos inconscientes.
Fica, pois, sem ação, e, ao ceder ao duelo com Pável, mesmo que seja para
sustentar seus ideais, sucumbe a uma instituição tradicional, alvo de sua
crítica. Seu final só poderia ser melancólico, se batendo com dois modelos
opostos.
Arkádi,
por sua vez, é o próprio protótipo do homem novo. Foi capaz de reconhecer a
incoerência de alguns posicionamentos retrógrados do amigo e identificar as
falhas da geração paterna, daí obter sucesso. Representa a burguesia que
vigorará na Rússia a partir da década de 1860. Une, por assim dizer, os ideais
russos à prática. Nele está o amálgama do que há de melhor nos pais e nos
filhos.
A prosa
Em “Pais e filhos” fica patente duas características importantes da
prosa de Turguêniev e de sua maneira de compor: seu esforço por ser imparcial,
deixando aos próprios personagens, por meio de suas falas e monólogos, apresentar
seus traços, técnica própria da dramaturgia, e sua preocupação muito mais em
criar personagens bem delineados, complexos, representativos de um tempo, e
menos em fabricar tramas. Além disso, é evidente nele a preocupação com a
forma, o cuidado com a linguagem e a busca por transformar o que escreve em
arte.
Memórias
de um caçador (1852), por exemplo, talvez seja, quando
se tem em mente a perfeição das construções das frases e do estilo, a clareza e
a simplicidade das construções, por uma pitada de beleza poética, sua
obra-prima, além de, nela, sob o pretexto de apresentar as memórias de um
personagem, denunciar a servidão onde morava — é isso que se encontra nas entrelinhas
das vinte e cinco histórias —,
apresenta um quadro sócio-histórico da Rússia agrária, submetida ao poder
despótico da autocracia.
TURGUÊNIEV, Ivan. Pais e filhos. São Paulo: Companhia das
Letras, 2019.
______. Memórias de um caçador. São Paulo: Editora 34, 2017.
______. Memórias de um caçador. São Paulo: Editora 34, 2017.
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