Mais que nunca o sambódromo, que fica na região onde era a casa de Tia Ciata, será transformado em um imenso terreiro, celebrando suas raízes no candomblé
Por Zé Barbosa Junior
Os terreiros de religiões de matriz africana tiveram um papel fundamental na formação do samba carioca, funcionando como espaços de resistência cultural e musical para a população negra no Brasil. Durante o período pós-abolição, esses locais não eram apenas centros religiosos, mas também pontos de encontro onde a cultura africana podia ser preservada e reinventada. Ritmos, cantos e toques de atabaques, herdados do candomblé e de várias vertentes africanas, influenciaram diretamente a cadência e a percussão do samba. Além disso, o culto aos orixás trouxe uma espiritualidade presente nas letras e nas celebrações do gênero musical, conferindo ao samba uma identidade marcada pelo sagrado e pelo ancestral.
Não se pode esquecer, por exemplo, a herança de Tia Ciata, que era praticante dessas religiões e transformou sua casa em um local de culto e festa, onde se misturavam música e espiritualidade. A presença dos orixás no samba se manifesta tanto nos enredos das escolas quanto nas referências a Exu, Ogum e Iansã, divindades associadas à comunicação, à guerra e aos ventos, elementos que simbolizam a força e a energia do samba. Assim, os terreiros não apenas influenciaram a musicalidade do samba carioca, mas também ajudaram a moldar sua essência como expressão de resistência, ancestralidade celebração da cultura afro-brasileira.
No entanto, ao analisarmos os últimos 10 anos de desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, essa ancestralidade parece ter sido esquecida em prol de temas mais “atuais” e outros até mesmo pagos como propaganda de governos, empresas, etc. Não é de se estranhar que, nos últimos anos, poucos foram os desfiles que tornaram-se memoráveis ou até mesmo sambas que tenham caído nas graças do povo, cantados por todos, independente de suas paixões pelas agremiações.
Desde 2014, foram pouquíssimos os enredos voltados para a herança africana do samba e o culto aos orixás, temas sempre recorrentes no samba, mas esquecidos pelas “super escolas de samba S.A.”, como denunciou o Império Serrano em seu inesquecível samba “Bumbum, Paticumbum, Prugurundum”, em 1982.
FONTE: Revista Fórum
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