Patrocínio: Livraria e Papelaria Ipuense https://www.instagram.com/livraria.papelaria_ipuense/
A construção do romance
Para compor o romance, Zola, trabalhando na imprensa, num jornal de oposição, passou a acompanhar as notícias e artigos que davam conta das greves de minérios na década de 1860 e 1870.
Acompanhou também as ações da Associação Internacional dos Trabalhadores, fundada em Londres em 1864, e sua ação em regiões mineiras.
Os mineiros se tornaram personagens em jornais, romances e obras científicas, desde aquelas que falavam de suas condições de vida e de trabalho, como outras escritas por engenheiros e médico, dando conta das doenças mais comuns que atingiam os mineiros em função de sua atividade na extração de carvão.
Todas essas obras servirão de fontes para o autor.
Atento ao movimento operário e às ideias políticas defensoras da classe operária, na década de 1870, Zola começa a pensar na ideia de um romance, esboçado mais tarde.
Em Germinal, essas ideias irão aparecer nas falas de Étienne, figura do militante operário, revoltado com a situação do trabalhador, sonhando, inicialmente, com algum acordo, mas desiludindo-se e lutando, depois, por uma espécie de socialismo difuso, e em Suvarin, russo niilista e anarquista, revoltado e terrorista, aquele que sabotará a Voraz.
De um lado, ideias que lembram Marx, de outro, Bakunin, dois teóricos cada vez mais populares na época.
Antes de começar a escrever o romance, Zola visitou Valenciennes quatro dias depois de eclodir, em fevereiro de 1884, uma greve de doze mil mineiros em Anzin.
Lá foi apresentado ao secretário do movimento, conheceu as habitações dos trabalhadores, compareceu às reuniões, foi apresentado aos dirigentes da greve, interrogou os mineiros e suas mulheres, conheceu cafés e desceu, acompanhado de um engenheiro, ao fundo de uma galeria da mina.
Em suas anotações, descreve móveis, vestimentas dos operários e de seus familiares, emoções, atmosfera dos lugares, traços das paisagens, as galerias, distribuição das tarefas, funções, jornada de trabalho, funcionamento das máquinas. Por fim, leu os artigos sobre aquela greve.
O mundo dos carvoeiros
Ao transpor o mundo dos carvoeiros para páginas do romance, usando uma linguagem inovadora da nova estética, adotando o modo de falar cotidiano dos trabalhadores, o que vemos é um realismo gritante, às vezes, elevado ao nível de dar conta da crueza do mundo retratado, eivado de paroxismos e atos grosseiros.
Não à toa, esse trabalho de pesquisa deu à obra de Zola um caráter de reportagem jornalística. Foi como entrou em contato direto como o mundo moderno e o cotidiano. O seu método de composição começa com a pesquisa minuciosa, trabalho do jornalista, que tanto conhecia.
Pesquisa sociológica
Familiarizado com o meio, podia relatar as condições de trabalho, as dificuldades dentro das minas, o calor e umidade, o labor enlouquecido para escavar os tuneis, escorá-los com madeiras, o trabalho de empurrar os vagonetes, a promiscuidade das moradias, os baixos salários, a fome e dificuldades financeiras dos trabalhadores.
Eis uma característica da estética que se iniciava, baseada na observação da realidade, buscando ser fiel a ela, partindo da perspectiva de ser o indivíduo determinado - ou pelos menos condicionado - pelo ambiente e a hereditariedade.
Aqui vemos a influência do darwinismo, do positivismo de Comte e Taine. Foi ele, talvez, o primeiro a retratar, com tamanho realismo, o drama vivido pela classe operária, na segunda metade do século XIX, representado nas greves dos mineiros de uma região da França.
Pode-se dizer, como Otto Von Carpeaux, ser o proletariado uma descoberta de Zola, o herói anônimo de sua epopeia. Ninguém, antes dele, o retratou com realismo.
Seus precursores são românticos, como Vitor Hugo, do Os miseráveis, ou Eugène Sue, autor dos Mystères du peuple ou histoire d’une famille de proletaries à traves les âge.
Denúncia
Há também uma denúncia da exploração do trabalho pela burguesia cada vez mais organizada numa fase monopolista, onde os grandes conglomerados destroem os pequenos empresários e estabelecem as grandes empresas, como as exploradoras de carvão.
Zola queria mostrar, é o que diz no esboço do romance, que o trabalhador abandonado a si mesmo poderia chegar ao crime.
Queria impressionar o leitor burguês para os perigos de deixar a classe operária fora do conforto que ela vivia aos explorá-los.
As cenas mostrando a multidão enfurecida, com fome, sitiando a casa do burguês, apedrejando-a, cometendo atos de barbaridade, destruindo as minas, símbolos da riqueza burguesa, e mesmo de ameaçando matar o seu opressor, representadas nos episódios em que as mulheres arrancam as partes genitais do dono de uma venda, que abusava das moças e senhoras, parecia querer conscientizar os representantes do capital para o terror a aguardá-los se nada fosse feito para mitigar a precariedade da classe operária.
A multidão ensandecida, com fome, com as mulheres na frente, se animalizava. Étienne, querendo contê-la, já tendo perdido o controle dela, tinha medo das mulheres, “movidas por um furor assassino, os dentes e as unhas para fora, ganindo como cadelas”, tendo à frente a Maheu, para quem o líder já nem mais olhava, “mas sentia um calor, como um hálito de fera ladrando”.
Visite a Livraria e Papelaria Ipuense. Ajude-nos a mantê-las. Compre lá ou peça o livro Germinal, frete grátis, pelo mesmo preço de uma multinacional. Confira!
Postar um comentário
Olá! Muito obrigado pelo seu comentário.