Para alguns “Guerra e paz” é a obra máxima de Leon Tolstói (1828-1910), maior expoente do Realismo crítico russo, um gigantes da literatura do século XIX. Para outros, esse papel cabe a “Anna Kariênina”.
Seja como for, ninguém discorda ser “Guerra e paz” verdadeira obra-prima. Aquela que, definitivamente, elevou o nome de Tolstói ao patamar dos grandes literatos de todos os tempos, rival à altura de Dostoiévski.
O livro apresenta um painel histórico da Rússia da época da invasão napoleônica e mostra a resistência heroica de seu povo. Nos deparamos com uma galeria de personagens variados: camponeses, soldados, burgueses, estrangeiros, religiosos, nobres.
A obra
“Guerra e paz” foi escrito entre 1863 e 1869, publicado em partes em um periódico entre 1865 e 1869, e lançado em livro em 1869. Teve como fontes relatos, biografias e documentos históricos.
Há, aqui, a intenção não declarada de ater-se aos fatos, mas também uma crítica à concepção da história como ciência, de base positivista. Para ele, ela não passaria de uma construção ou fábula, não trazendo a verdade sobre o passado e nem um relato fiel do que teria ocorrido.
O “épico do povo russo” é um romance que se passa durante as guerras napoleônicas, cuja ação se desenrola entre 1805 e 1812. Narra a marcha das tropas napoleônicas e seu impacto brutal sobre a vida de centenas de personagens, sobretudo colocando em relevo o percurso de cinco famílias aristocráticas russas.
Com destaque, apresenta os reflexos da guerra sentidos com mais profundidade em duas famílias nobres: os Rostóv e os Bolkónski. O medo e miséria do povo contrastam com os bailes realizados pela aristocracia de Moscou e Petersburgo. Seus personagens demonstram a hipocrisia da sociedade, a identidade da guerra e a passagem inexorável do tempo e da vida.
Em meio a cenas de batalhas, bailes da alta sociedade e intrigas veladas, destacam-se as figuras das irmãs Natacha e Nikolai Rostóv, do príncipe Andrei Bolkónski e de Peirre Bezúkhov, filho ilegítimo de um conde, cuja busca espiritual serve como espécie de fio condutor e o transforma em uma das mais complexas personalidades da literatura do século XIX. Bezúkhov busca atingir um superior estado moral, espécie de busca do próprio autor em sua vida madura.
Afrescos
Para o escritor francês Romain Rolland, Tolstói emoldura série de afrescos épicos, intercala dramas pessoais com a rotina mundana da aristocracia e com a narrativa de batalhas. Para N. Strakov, o autor apresenta um quadro completo da vida humana da Rússia durante o período das guerras napoleônicas, de 1805, ano da vitória de Napoleão na batalha de Austerlitz, e 1812, com a retirada dos franceses durante o inverno e após o incêndio de Moscou.
“Guerra e paz” foi escrito, também, para defender uma tese, aquela de que os fatos históricos não são resultado da ação de um indivíduo excepcional, espécie de gênio, como Napoleão.
Defende, ao contrário, que são a concretização da ação coletiva, social, numa palavra. Nesse ponto, ele é moderno, antecipa a história social dos Annales (1929).
O que move os acontecimentos, defende Tolstói, é o desejo (as virtudes coletivas). Em última instância, defende a noção de existir uma lei a fazer os fatos se desenrolarem, espécie de lei geral da necessidade.
O homem estaria sujeito a ela, como todas as criaturas, o que minaria a ideia de livre-arbítrio. A liberdade completa seria impossível. Todas as ações dependeriam de sua organização, de seu caráter e dos motivos que agem sobre a pessoa. A consciência, enfim, estaria sujeita à razão.
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