O caso de Ipu - II

Nogueira Accioly

Conjuntura Política

            Sabia o coronel João Martins da Jaçanã da conjuntura política ou não estava nem aí para aquilo? 

Naquele momento os Martins de Ipu haviam sido alijados do poder e dos cargos. Um a um saiu pelas portas do fundo e viu seus postos serem assumidos pelos adversários: os Aragão. Isso assim se deu pela própria mudança da conjuntura política estadual e federal.

            Os Martins e sua parentela estiveram imbricados com a política oligárquica. Apoiavam Nogueira Accioly, chefe da oligarquia estadual, e recebiam carta branca para governar a cidade de Ipu. 

O comendador Accioly, por sua vez, apoiava o candidato ao governo federal indicado pelo Partido Republicano Paulista. Tinha o poder no Estado.

            Mas em 1910 o esquema montado por Campos Sales (Política dos Governadores) sofrera uma fissura com a eleição de Hermes da Fonseca para a presidência. 

Hermes adotou uma política conhecida como salvacionismo. Consistiu em substituir os oligarcas estaduais por outros, de sua confiança, com o discurso de “moralizar” a política federal e sob a alegação de que as oligarquias estaduais, com sua corrupção e desmandos, emperravam a administração e desenvolvimento do país. 

No Ceará foi lançada a candidatura do salvacionista Franco Rabelo e que derrotou Accioly.

   

Queda de Accioly   

Franco Rabelo

   
Mesmo com a queda do Comendador Accioly e a ascensão do salvacionista Franco Rabelo, os Martins mantiveram o poder local numa manobra bem orquestrada, apoiando as forças dissidentes, ao lado de Paula Rodrigues — a quem conheciam muito bem e mantinham relações amistosas -  que deram suporte a candidatura de Franco Rabelo à presidência do Estado em 1912. 

Em troca do apoio a Franco Rabelo, mantiveram, momentaneamente, o poder em Ipu, o que lhes valeram o apelido de “Vira-cassaca” dos seus opositores locais, os Aragão, sedentos pelo poder. Só mais tarde estes teriam o prazer de sentir o gosto de governar.

Vencedor nas urnas e assumindo a presidência do Estado em 1912, Franco Rabelo governaria, no entanto, só até 1914, derrubado por uma conjunção de forças estaduais e federais, com destaque para a Sedição de Juazeiro.

Este cenário político provocou consequências nefastas para a política ipuense do período. Com a queda de Rabelo, caíram em Ipu os Martins. Perseguidos como “cães sarnentos” pelo governo do Estado, evadiram-se.


A intervenção



Decretada a intervenção para o Ceará em março de 1914, assumiu o governo o general Setembrino de Carvalho, que mandou de volta para Juazeiro os “revolucionários” do Padre Cícero. 

No entanto, muitos dos “jagunços” foram incorporados ao Batalhão de Segurança Pública e logo começaram a “cometer desordens, perturbando a tranquilidade das famílias”. Os adversários dos Aragão foram vítimas de atrocidades.

 Muitos desses “jagunços” incorporados ao poder repressor foram enviados ao interior para perseguir os rabelistas. Ipu é um destes casos. Osório Martins sentiu na pele o gosto amargo de seu próprio sangue, ao sofrer afrontas de tais jagunços, pelo simples fato de ser um Martins.

Logo após a queda de Rabelo, estacionaram na cidade de Ipu, “policiais”, “jagunços do Padre Cícero”, que passaram a hostilizar e perseguir os rabelistas, notadamente os Martins. 

Foi deposto da intendência do Município de Ipu, em 3 de abril, o Tenente Coronel Aprígio Quixadá e dissolvida a Câmara, empossada por Accioly em 1912.

Foram exonerados do cargo de promotoria de justiça Leonardo Mota, e da delegacia, seu primo Manoel Vitor, ambos ligados aos Martins. Em seguida, os antigos rabelistas — agora democratas — passaram a ser perseguidos, hostilizados. O Ipu viveu um verdadeiro banho de sangue.            

O coronel Benjamin Liberato Barroso, que assumiu a presidência do Estado em junho de 1914, mandou uma força policial para a cidade de Ipu com ordens de perseguir e aniquilar os rabelistas. A ordem era para matar e não poupar munição.

João Martins da Jaçanã só complicou as coisas. Mal sabia ele que o poder dos Martins era, agora, coisa morta. Mais, afrontou a ira do poder instituído em um momento de ânimos cerrados. 

Perderia tudo, teria sua fazenda totalmente destruída, seus parentes afrontados e veria o sangue de pessoas próximas sendo derramado. Após o ataque a cadeia, João Martins passou a ser o alvo principal das perseguições. A ordem do governo era para exterminá-lo, matar seus “capangas”, acabar com sua fazenda, perseguir, afrontar, prender e, mesmo, matar.

Após o episódio do ataque à cadeia, portanto, se seguiu uma intensa perseguição ao Coronel João Martins, empreendida pelo presidente do Estado. Seguiu-se, também, uma série de perseguições, espancamentos e assassinatos no município. 

Os Martins de Ipu esvaziaram a cidade. Piauí, Ipueiras, Crateús, Nova Russas foram seus refúgios. Só retornariam quando os ânimos estivesse sossegados.


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