A Revolução dos Bichos, livro de George Orwell, pseudônimo para Eric Arthur Blair, foi publicado em 1945, após ter sido recusado por vários editores.
É uma espécie de
denúncia do mito soviético com base numa história de fácil compreensão, em que
os bichos, personagens centrais do romance, se revoltam contra a exploração dos
humanos e buscam construir uma sociedade igualitária, mas acabam caindo numa
nova escravidão ainda mais impiedosa nas mãos de seus semelhantes, os
dirigentes dessa nova sociedade, personificados nos porcos, uma espécie
de intelligentsia.
O expediente usado pelo autor, para denunciar os rumos da Revolução Russa, é o
das fábulas tradicionais, isto é, o uso de animais para representar os homens.
A Revolução dos Bichos é, portanto, uma sátira feroz da
ditadura adotada por Stalin na Rússia socialista, uma denúncia aos rumos que
tomaram o socialismo naquele país. A ambição do autor era analisar a teoria de Karl
Marx do ponto de vista dos animais.
O enredo
O enredo é construído com base numa analogia quase explicita entre a “Granja dos Bichos” — antes da Revolução era chamada “Granja do Solar” —, local onde os fatos se desenrolam, e a Rússia socialista, sob a liderança de Stalin. Quem conhece um pouco da história identifica, claramente, os fatos que se passam na “Granja dos Bichos”.
Os bichos vivem na opressiva fazenda do senhor Jones, no momento em que
são convidados para ouvir o último discurso do velho porco, animal respeitado
por todos ali. Trata-se do velho Major. Este analisa a vida de provação e
sacrifício dos animais, a forma como são explorados pelos humanos e como eles,
que trabalham e produzem, não ficam com os seus frutos. Estes são apropriados
pelos humanos, que os exploraram com o objetivo de produzirem sua riqueza.
No final, pede que todos os animais se unam e façam uma revolução com o objetivo de derrubar seus exploradores e construírem uma sociedade baseada na ajuda mútua e na coletivização da propriedade.
Propõe um hino, caso a revolução
seja vitoriosa, “Bichos da Inglaterra”, para servir como sua versão da
“Internacional Socialista”. Mesmo morrendo, sua mensagem, baseada nas ideias de
Karl Marx — ou ele representaria o próprio Marx? — logo é adotada pelos porcos mais cultos, a intelligentsia do
mundo animal. Forjam uma aliança entre os cavalos Sansão e Quitéria, que eram
fortes, e representavam o proletariado, e os elementos representantes dos
trabalhadores do campo e da classe média, personificados nas ovelhas, vacas e
galinhas, e outras forças dos pastos e do quintal. Somente a égua Mimosa, uma
espécie de tipo pequeno-burguês, e Moisés, um corvo, de fala fácil e eloquente,
que prega a existência de um mundo além do céu, se mantêm indiferentes.
Numa série de batalhas, o proprietário da Granja, o senhor Jones, é
expulso, e sua tentativa de retomar a propriedade, com a ajuda de outros
proprietários de Granjas, próximas, alarmados com o exemplo da “Granja
dos Bichos”, é, mais uma vez, derrotado.
Começa então um período de construção, acompanhada de isolamento e
perigo e da sensação de que os porcos, líderes da revolução, tinham se
apoderado de uma fatia excessiva de poder e privilégios.
Contexto
Os paralelos com o governo de Stalin são evidentes: a excomunhão dos
dissidentes, a reescrita da História, os julgamentos espetaculares, a
coletivização da produção, a fome que a acompanha e as execuções em massa. O
porco Napoleão representa, obviamente, Stalin, que expurga e manda para o
exílio aquele que representava um obstáculo ao eu poder, o porco Bola-de-Neve,
que representa Trotski. Este cai em desgraça, jogado na lama e transformado em
inimigo da Revolução. A história reescrita trata de apresentá-lo como um aliado
aos inimigos da Revolução.
A história termina com os animais reunidos, do lado de fora, observando
um banquete entre os porcos, dirigentes, e os seres humanos. Nisso, são
incapazes de distinguir entre porcos e humanos (quem seriam os mais
opressores?). Era uma clara referência sarcástica ao então encontro de Teerã,
em 1943, reunindo Churchill, Roosevelt e
Stalin, combinando uma coordenação dos ataques soviéticos à Alemanha nazista
com o iminente desembarque dos aliados na Normandia. Na visão de
Orwell, aquilo não passava de uma reunião cínica destinada à divisão dos
espólios da guerra.
Os bichos, em nome da Revolução, de uma vida mais igualitária e na
promessa de segurança acabaram, como na Rússia stalinista, ficando sem uma nem
outra.
O uso político do romance
Recusado por vários editores, mas uma vez que foi publicado, o romance
causou mal-estar entre os literatos e a elite política da época, pois foi
percebido como uma sátira feroz do stalinismo. Ora, os soviéticos eram aliados
das democracias ocidentais contra o nazifascismo. Uma crítica aos aliados não
caía bem naquele momento. O desconforto era agravado pelo fato de os líderes
da “Granja do Bichos” serem os porcos, o que era visto como
uma ofensa aos dirigentes russos.
Com a Guerra Fria as coisas se inverteram. Os capitalistas ocidentais
passaram a usar a fábula como arma ideológica anticomunista, situação que era
incomoda para o próprio autor, que se dizia socialista ou seu simpatizante,
estando descontente pelo desvirtuamento do socialismo da União Soviética
stalinista.
Referência.
ORWELL, George. A revolução
dos bichos: um conto de fadas. São Paulo: Claro Enigma, 2012.
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