O famoso cabaré de Ipu - I

 

Entre fins do século XIX e as primeiras décadas do século XX, foi erguido, no hoje bairro da Caixa d’água, famoso cabaré. Fez a alegria de muitos solteiros e casados, escandalizou a sociedade “ilustre”, defensora da “moral e dos bons costumes civilizados”,  horrorizou a Igreja Católica da época.

Dizia-se que aquele “antro de imundície”, “da orgia”, “do pecado” representava o fim dos tempos. Aquele que ali fosse visto estava trilhando o caminho “para o Inferno”: seu corpo iria queimar nas “profusas da escuridão”.

 

O surgimento do Cabaré

            A verdade é que o surgimento do cabaré é a outra face do crescimento da cidade nos primeiros anos do século XX: se fez a alegria de alguns, foi, por outro lado, alvo de controle do poder local.

Erguido em um local distantes dos olhos da sociedade, no meio do mato, na época, teve o seu período áureo. Decadente, foi sendo englobado pelo crescimento da cidade.

Passou a horrorizar. Já não se podia permitir um espaço como aquele bem no centro da cidade. É assim que aos poucos vai sendo demolido. Hoje já não restam resquícios dele, apenas histórias dos seus inveterados frequentadores: histórias pitorescas e que ainda esperam pelos pesquisadores.

Na década de 1980, na administração de Francisco Eufrásio Mororó, seus últimos focos foram totalmente destruídos. Aquele local é hoje uma área nobre da cidade.

            Contemos parte de sua história.

 O Controle

Passou a ser alvo do controle a circulação e a permanência das meretrizes (prostitutas) em alguns logradouros da cidade, como meio de resguardar a moral recatada e os bons costumes das famílias “illustres do logar”.

Com a chegada da ferrovia em fins do século XIX e o posterior aumento da população e da circulação de mercadorias e capitais, a cidade de Ipu passou a atrair um número significativo de prostitutas das regiões circunvizinhas, que vinham se juntar as já existentes no lugar. É também nesse momento que começam a surgir os primeiros “cabarés”, na verdade casinhas onde se praticava a venda do sexo.

 No final da década de 1910 e início da seguinte, há uma maior preocupação por parte da população e do poder público em se proceder a um controle rigoroso das “mulheres de vida fácil” que viviam na cidade e comercializavam seu corpo em praças públicas.

Também, nos primeiros momentos do século XX, teve início o surgimento do mais famoso “cabaré” da cidade, erguido no atual bairro da Caixa D’água, na época praticamente desabitado.

Diante do intenso controle da qual foram alvos a circulação e a permanência das meretrizes em logradouros públicos da área central da cidade, elas acabaram adotando práticas de resistências e táticas para burlar o controle.

Assim, a venda de seus serviços se desloca do espaço público para o privado. Surge, então, o meretrício, na periferia da cidade. Ali, distante, as prostitutas não incomodavam tanto e havia uma autorização tácita do poder público quanto a isso.

Parece mesmo ter sido autorizado pelo poder repressor a construção de casas naquela localidade, no meio do matagal, portanto, escondidas, mais ou menos afastadas do centro, onde era permitido o comércio do sexo.

Consentir com que as meretrizes se reunissem em apenas um lugar poderia facilitava o seu controle. Essas casas onde passaram a morar, transformavam-se em cabaré à noite para viajantes e moradores da cidade, que procuravam seus serviços. 

Continua...

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