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Donald Trump durante encontro com o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu.Créditos: Flickr / The White House |
Distopia do clássico de Ray Bradbury ganha contornos reais nos EUA em meio à ofensiva do republicano contra obras literárias. Livros estão sendo retirados da biblioteca da Academia Naval dos EUA.
Desde que Donald Trump assumiu
o poder, o cenário distópico de Fahrenheit 451 vem se tornando
cada vez mais real. O livro reflete sobre a alienação, o autoritarismo, o
individualismo e violência através de um mundo em que bombeiros, agentes do
Estado, incendeiam livros em vez de apagar incêndios. Como se não bastasse a
metáfora, agora também é possível fazer a analogia.
A ordem de retirada de 381 livros
sobre feminismo, racismo e Holocausto da biblioteca da Academia
Naval dos EUA foi determinada outra vez pelo governo Trump e simboliza o aprofundamento de
uma “política” que silencia debates sobre justiça social e diversidade. A ação
partiu do gabinete de Pete Hegseth, secretário do republicano, em
um esforço sistemático para excluir das instituições militares qualquer
referência a questões como equidade de gênero, racismo estrutural e memória
histórica.
A lista de livros também inclui obras que abordam momentos cruciais da
história e das lutas sociais nos Estados Unidos e no mundo. Foram banidos
títulos sobre o Holocausto,
a participação de afro-americanos na Segunda Guerra Mundial, a atuação política
de mulheres negras no século XIX e o impacto do assassinato de Trayvon
Martin.
Entre os autores silenciados está Maya Angelou, cuja
autobiografia Eu Sei Por Que o Pássaro Canta na Gaiola também
foi removida. Angelou foi uma das vozes mais influentes da literatura
afro-americana e um símbolo da resistência pelos direitos civis.
Também há temas que o autoritarismo costuma tentar silenciar: corpos,
vozes e histórias. Estão entre eles reflexões sobre
sexualidade, a presença social das mulheres, a violência racial, além de
análises sobre a Ku Klux Klan, a realidade das mulheres em regimes
islâmicos e o olhar sobre a identidade e a diferença.
Na última sexta-feira, a Marinha revelou uma lista de livros removidos
da biblioteca da Academia Naval, como parte de um esforço mais amplo do governo
Trump para suprimir conteúdos considerados “ideológicos” em ambientes federais.
A ofensiva já atinge escolas públicas, plataformas
institucionais, iniciativas educativas e agora avança sobre acervos militares. A seleção foi realizada a
partir de buscas por palavras-chave na biblioteca Nimitz, o que levou à identificação
de cerca de 900 títulos. Quase 400 foram eliminados.
Fontes do Departamento de Defesa, entrevistadas pela Associated
Press, expressaram desconforto com a decisão. Entre as principais
preocupações está o risco de que a remoção de conteúdos históricos comprometa a
formação dos cadetes e apague contribuições importantes de militares
pertencentes às minorias sociais.
“Um livro é uma arma carregada na casa ao lado.
Quem sabe quem pode ser o alvo do homem culto?” - Fahrenheit 451
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