Tem como cenário a charmosa urbe do “sertão”, Ipu ou Terra de Iracema, das primeiras décadas do século XX. São personagens centrais o Velho Thomaz, simpático, sábio e erudito, e Antônio, garoto pobre que, aparentemente por generosidade de seu benfeitor, consegue concluir o ensino secundário e cursar direito na conceituada Faculdade de Direito de Recife, privilégio dos abastados e homens poderosos do período.
A tramaO enredo é tecido como quem entrelaça pacientemente os fios numa roca até compor a trama. O enredamento, isto é, o encadeamento das ações, está de tal forma emaranhado a ponto de os sentidos por trás dele nos causar emoções. Como uma rede pacientemente urdida, nos prende, nos colhe num ardil ou armadilha de onde não é possível fugir.
Há, no enredo, duas histórias entrelaçadas. Uma, a mais significativa, aquela dos dramas vividos por Antônio e o Velho Thomaz, a outra, eivada de suspense, fala do mistério da morte de Badaró, melhor amigo de Antônio. Quem o matou e por quê? A segunda história parece apenas mascarar aquilo que é mais importante: as vidas trágicas do Velho e de seu pupilo, dignas da tragédia clássica.
O que mais nos causa comoção são as voltas e reviravoltas constantes: quando as coisas parecem se encaminhar para um final desejado, isto é, quando a felicidade parece tomar conta dos personagens, o infortúnio os atinge de forma implacável. Nesse ponto, a trama deve muito à tragédia grega, sobretudo a Sófocles. O dramaturgo grego partia da perspectiva de que é exatamente no momento de plenitude, sempre fugaz, passageiro, efêmero, que a flecha envenenada nos é atirada. Os personagens sofoclianos, diante do infortúnio, têm de encontrar uma solução honrosa.
Antônio transita por dois mundos: se aproxima daqueles que se sociabilizam no Grêmio, clube nobiliárquico, por sua formação e pela figura do Velho Thomaz, e daqueles outros, das pessoas comuns, ordinárias, por sua origem humilde. Há aí um contraponto entre o Grêmio e o Cabaré.
É pelo contraste entre os frequentadores do “submundo” e aqueles da sociedade “aristocrática” que se revela como a ideia de nobreza não passa de uma construção da linguagem, estratégia de imposição de respeito e poder, bastante exitosa, e que a honra nada tem a ver com fidalguia, origem, linhagem. Ela não está no corpo, mas no coração: não é exterior, mas emana do âmago.
Antônio só compreende isso quando percebe que o mundo dominado pelo escol social se impõe de maneira implacável, determinado o “destino” das pessoas humildes. A sina de sua mãe, da sua amada, e mesmo da apaixonante Creuza, são “condicionadas” por suas “desonras” cometidas justamente por aqueles que se autodeclaram honrados. Paradoxalmente, compreende: os considerados desonrados são mais dignos de respeito.
Finalmente, o Velho Thomaz, personagem singular, contraditório, como somos todos nós, parece ter organizado as leituras que faria com o seu pupilo de forma a prepará-lo para enfrentar a sua maior dor, mas acabou, pelo contrário, levando-o a decidir-se por outro caminho, aproximando-o dos grandes heróis da tragédia épica.
O que leva o personagem central ao drama final, na hora agá (kairós), é, de um lado, as hostilidades daquela sociedade para qual quis, no início, entrar e, de outro lado, o contraste evidente entre a imagem construída do velho como honrado, justo, honesto, perfeito, sábio, seu benfeitor, e aquela outra do usurpador, aproveitador, oportunista e sem escrúpulos.
Romance Filosófico?
Máscara trágica é uma espécie de tragédia moderna, cujo enredo se desenrola em duas semanas numa pequena, porém charmosa, cidade do “sertão” cearense, mas cujas lembranças do personagem central recuam e avançam no tempo unindo passado e presente. Tem for finalidade levantar e propor reflexões sobre a existência ou a condição humana, ou servir como uma espécie de guia de leitura das grandes obras “clássicas”. O enredo é tecido como quem entrelaça pacientemente os fios numa roca até compor a trama. O enredamento, isto é, o encadeamento das ações, está de tal forma emaranhado a ponto de os sentidos por trás dele nos causar comoções. Como uma rede, pacientemente urdida, nos prende, nos colhe num ardil ou armadilha de onde não é possível fugir.
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