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Relatório afirma que soldados abrem fogo deliberadamente contra cidadãos palestinos
Por Rafael Custódio – Agência Pública
Na Faixa de Gaza, soldados de Israel matam e agridem crianças palestinas, que vivem sob o iminente risco de morte e sem perspectivas de futuro. É o que afirma um relatório da ONG israelense B’Tselem, que denuncia genocídio em Gaza. O documento, intitulado “Our Genocide” (nosso genocídio, em português), divulgado nesta última segunda-feira, 28 de julho, aponta as consequências severas causadas pelo conflito na saúde física e psicológica de crianças e suas mães, que não conseguem amamentar os seus filhos, em decorrência dos traumas.
O relatório da ONG é baseado em dados de entidades, reportagens e relatos. Desde que a guerra começou, em outubro de 2023, mais de 55 mil pessoas morreram em Gaza, sendo mais da metade mulheres e crianças, de acordo com o Ministério da Saúde local. As mortes aconteceram em bombardeios ou fuziladas pelas Forças Armadas do exército israelense, a mando do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que passou a sofrer críticas internacionais e foi condenado à prisão por “crime de guerra” pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).
Segundo o relatório da B’Tselem, os ataques israelenses não ocorrem somente por meio aéreo ou ataques a bombas. Há lugares conhecidos como “zonas de matança”, onde soldados do Exército de Israel abrem fogo deliberadamente contra cidadãos palestinos, incluindo crianças. “Essas práticas foram reforçadas por declarações de comandantes sobre assassinatos indiscriminados e por testemunhos de médicos voluntários em Gaza, incluindo evidências visuais de assassinatos deliberados por atiradores de elite contra crianças”, descreve o relatório.
As “zonas de matança” foram descritas por soldados israelenses como um lugar onde “era dada a permissão para atirar em qualquer um que fosse visto dentro delas” e os limites dessa área não eram bem claros até mesmo aos militares.
Criança bebendo água em um recipiente de plástico em Gaza. Imagem: Abed Zagout
Um dos relatos trazidos no documento é o de Raja al-Harbiti, de 35 anos. Ela, o marido e os três filhos foram atropelados por um tanque de guerra israelense, mesmo segurando bandeiras brancas que pediam paz. O pai da família e uma das crianças foram dilacerados pelo veículo blindado, sobrevivendo apenas a mãe e os dois filhos que ficaram gravemente feridos.
“Ibrahim [um dos filhos sobreviventes] continua revivendo o momento em que o tanque atingiu seu pai e seus irmãos. Ele continua descrevendo como a cabeça de Muhammad [irmão que morreu] foi decepada, e como Ahmad [o pai] sangrou muito. Ele se tornou agressivo e bate nas outras crianças ao seu redor. Ele grita muito, tem pesadelos à noite e urina na cama”, contou a mãe sobrevivente.
“Toda vez que Sanaa [a segunda filha sobrevivente] ouve um barulho alto, ela fica muito assustada, coloca as mãos nos ouvidos e diz: ‘Tanque’. Ela também sofre de incontinência urinária. Sinto como se estivéssemos vivendo em um filme de terror”, declarou al-Harbiti.
Crianças convivem com o medo da morte
Segundo o relatório, 96% da população infantil em Gaza acredita que vai morrer logo e outros 50% desejam a morte, em decorrência dos traumas gerados pelo conflito. Os dados são da ONG Save The Children, vinculada à ONU. Outro estudo citado foi divulgado pela organização Médicos Sem Fronteiras, em dezembro de 2024, e aponta que crianças palestinas apresentaram “ideação suicida, ansiedade, depressão e necessidade de apoio psicossocial”.
De acordo com dados do Ministério da Saúde de Gaza, divulgados aos Médicos Pelos Direitos Humanos de Israel (PHRI), cerca de 4,7 mil pessoas tiveram membros do corpo amputados, incluindo quase mil crianças. Pela escassez de analgésicos, parte dos procedimentos foram feitos sem anestesia, inclusive em crianças.
Hala Rajabi, de 50 anos, contou à B’Tselem que soldados israelenses invadiram a sua casa, em julho de 2024, deliberadamente e a agrediram junto com os filhos, incluindo as crianças.
“Muhammad [um dos filhos] ainda sofre com dores nos testículos e com ansiedade. Ele tem tido dificuldades para dormir desde o ataque. Diz que tem pesadelos com os soldados correndo atrás dele e o espancando. […] Eu realmente não me recuperei desde então. É muito difícil ficar ali parada, impotente, e ouvir soldados espancarem seus filhos dentro da sua própria casa”, contou a matriarca.
Como consequência do conflito, a população palestina perdeu 30 anos de expectativa de vida ao nascer, diz o relatório. Homens antes viviam, em média, 75 anos e agora não ultrapassam os 40. Para as mulheres, a diminuição foi de 77 para 47 anos.
FONTE: ICL
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