Patrocínio: Livraria e Papelaria Ipuense https://www.instagram.com/livraria.papelaria_ipuense/
A obra apresenta, de fato, alguns traços do Naturalismo, como a descrição minuciosa do meio, certa animalização dos retirantes, resultado do momento e das condições climática — de seca —, certa denúncia da miséria, de maneira branda, é verdade.
O tema é caro à escola naturalista: a vida miserável do homem, resultado de suas péssimas condições de vida. o roubo, a prostituição, a promiscuidade do meio social, a miséria aparecem como espécies de atavismo, levando ao desregramento, à animalização. A descrição do retirante, maltrapilho, em andrajos, “só o coro e o osso”, tem a intenção clara de comover, de denunciar o repugnante.
O realismo está presente na tentativa do autor de reproduzir o mundo dos retirantes, da dor e do sofrimento daqueles atingidos pelo flagelo, o meio em que viviam, a linguagem do sertanejo, suas crendices, superstições e religiosidade popular.
O Enredo
O enredo narra a vida de Luzia, retirante que emigra de Ipu para Sobral, com sua mãe enferma, em busca dos trabalhos da Comissão de Socorros Públicos que, em troca de trabalho, distribui aos retirantes a ração diária.
Como em O cortiço, de Aluísio Azevedo, que dá vida à estalagem, o personagem central do romance parece ser a seca ou os seus efeitos na população retirante. A descrição minuciosa e repugnante da população adventícia, na Sobral daquele tempo, tem a intenção de denunciar o descaso e a exploração, pelas autoridades, dessa população miserável, vítima das condições climáticas, que, trabalhando duro de sol a sol, recebe apenas a ração diária.
Era comum na imprensa da época o uso político que se fazia dos recursos federais de combate aos flagelos da seca, os desvios, os cargos arranjados, a exploração desumana da mão de obra dos retirantes, usados na construção de prédios, de estradas, açudes e na ferrovia.
As secas periódicas — defende o historiador Farias Filho, em seu livro A fantasia de moderno, — que atingiam o Estado do Ceará, se trouxeram, de um lado, efeitos negativos, sentidos com mais dramaticidade nos interiores, propiciaram, por outro lado, a construção e consolidação de equipamentos diversos em muitas localidades, gerando oportunidades aproveitadas pela barganha de políticos influentes na cena estadual e nacional que, não obstante, se favoreciam dos recursos enviados, angariando benesses e obras grandiosas de infraestrutura para a região.
Sempre em anos de seca o governo empreendia, naquele tempo — e essa foi uma prática com vida longa, — sobretudo nas localidades que recebiam levas de pessoas atingidas pelas consequências da estiagem, assistência por meio dos Socorros Públicos, e obras, criando frentes de serviços para empregar uma população adventícia. Esta, em troca de uma remuneração baixa, se submetia a trabalhos pesados e longas jornadas.
Romantismo e drama
Há certo romantismo na história, a idealização da personagem central, abnegada, sem sujeitar-se ao meio e nem ao flagelo, mantendo-se firme em sua honestidade. Não falta o drama de viver entre o amor de Alexandre, soldado honrado e seu protetor, disputando o seu amor, e outro soldado, Crapiúna, assediador de moças bonitas.
Crapiúna, acostumado a comprar os beijos das miseráveis, rejeitados pela ipuense, passa a importuná-la, querendo-a mesmo à força.
Trava-se uma disputa entre o impostor e Alexandre, cujo desfecho é uma tragédia. Ele, com uma comparsa, rejeitada por Alexandre, arma contra o rapaz. Fica preso por um mês, descoberto com a ajuda de Teresinha — amiga de Luzia e vítima da seca. Caíra na prostituição, redimida depois.
Na noite em que Luzia e a família de Teresinha, junto com Alexandre e outros, se deslocavam para a serra da Meruoca, em busca de bons ares e melhores condições, Crapiúna consegue fugir da prisão.
Num ponto em que Luzia se via distante dos outros, ele a alcança. Os dois travam combate corporal. Embora ferido, Crapiúna crava-lhe punhal no peito. O malvado, sem um olho e com o rosto ferindo, entre uma queda e outra, rola lá embaixo, no abismo. Ela agoniza. O romance cessa aí.
Romance Regionalista
Luzia-Homem, na classificação de Afrânio Coutinho, se enquadra no romance regionalista do ciclo nordestino ou da seca. Inova, diz ele, por ter uma mulher como protagonista.
Luzia, apesar dos traços femininos, aparece, em alguns momentos, como masculinizada, talvez para suportar um meio tão adverso à mulher. Se o enredo fala de um amor adolescente, aproximando-o do romantismo, se distancia dele por sua protagonista não ser, nem de longe, submissa, como as mulheres retratadas por José de Alencar, por exemplo.
O Naturalismo, em Domingos Olímpio, está atenuado. O seu quadro é mais realista, verossimilhante, sem os excessos de Rodolfo Teófilo, em A Fome, nem o idealismo do sertanejo, presente em Os Sertões, de Euclides da Cunha.
O autor é, também, conciso. Não há, ali, excesso, e seu estilo de narrativa, mesmo quando o narrador toma a dianteira, busca aproximar-se da fala do sertanejo. Seus diálogos são curtos e incisivos.
Luzia é construída com contraste a encantar, atraindo tanto o mocinho (Alexandre), quanto o bandido (Crapiúna). Um é o seu lado meigo, o outro o seu lado rústico, masculinizado, meio animal, instintivo.
O romance também tem um quê de romantismo, ao construir a figura meio idealizada de sua protagonista, e o tema do amor adolescente, além de um quê de realismo, com descrições de cenas, enredos e personagens verossimilhantes.
Visite a Livraria e Papelaria Ipuense. Ajude-nos a mantê-las. Compre lá ou peça o livro Luzia-Homem, frete grátis, pelo mesmo preço de uma multinacional. Confira!
Postar um comentário
Olá! Muito obrigado pelo seu comentário.