O vermelho e o negro

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Para o filósofo Clóvis de Barros Filho O vermelho e o negro é uma das maiores obras de literatura de todos os tempos. É visto pela crítica como o romance que marca, na literatura francesa, o início do realismo, rompendo, pois, com o romantismo. E uma das características do realismo é a verossimilhança.

Stendhal viveu aqueles anos agitados na França entre os fins do século XVIII e princípios do século XIX. Por meio de Sorel, ele discute questões políticas e sociais do período. O autor percebeu as mudanças pelas quais passava a França e expressou, por meio da arte, uma imagem dos costumes naqueles agitados anos.

Julien Sorel


O vermelho e o negro, de Stendhal, tem como personagem central Julien Sorel, filho de um carpinteiro, movido por uma grande ambição: angariar posição numa França que, apesar das transformações profundas advindas com a Revolução Francesa, ainda mantinha uma sociedade nobiliárquica, orgulhosa de sua posição nobre e de linhagem.

O cenário onde se desenvolve o enredo é, portanto, a França do início do século XIX, logo após a queda de Napoleão, ocorrida em 1815, e a restauração da monarquia. 

De um lado, valores burgueses estavam sendo estabelecidos e, de outro, os valores aristocráticos ainda eram fortes, mas em plena decadência. Pode-se dizer ser aquele um momento de transição havendo um embate entre valores nascentes, capitalistas, e os valores nobiliárquicos, da nobreza, ainda fortes. 

É o momento do surgimento de novas relações sociais complexas, tão bem descritas no romance.

A obra explora e descreve paixões avassaladores, como aquelas vividas por Julien Sorel e duas mulheres de posição social reconhecida, romances impossíveis. O protagonista, ambicioso, orgulhoso e com certo desprezo para com aqueles de posição social, parece ser o personagem criado por Stendhal para colocar em relevo preconceitos sociais, homens orgulhosos e não menos desprezíveis.

Sorel parece ser uma espécie de anti-herói, com defeitos, mas também com qualidades que às vezes faltavam a muitos dos outros personagens. Ele e suas amantes vivem conflitos psicológicos intensos. Ele por sua inferioridade social e pela disposição de enfrentar as convenções sociais. Suas amantes, por terem de abrir mão de seus nomes, da linhagem, do seu orgulho, e a disposição quase cega por estabelecer um combate contra os valores de suas “castas”, em nome de um amor avassalador.

Ambição


Embora de condição social inferior, o que fazia toda a diferença naquela sociedade das primeiras décadas do século XIX, Julien Sorel tinha uma inteligência diferenciada e uma memória excepcional, o que o levava a decorar, em latim, a Bíblia, gerando, entre aqueles que lhe davam ouvidos, uma admiração profunda por ele. Estudava teologia e desprezava qualquer trabalho braçal, o que desagradava seu pai e irmãos, que, também por isso, os desprezavam.

Algumas das qualidades do herói do romance eram a extrema beleza e o poder de sedução, usando-as a todo custo para conseguir o que almejava. Sem linhagem ou berço, sabia que sua ascensão social só poderia ser conseguida por dois caminhos: o militar ou a batina. 

O primeiro representa o vermelho (uniforme), o segundo o negro (a batina). Aproveita bem as oportunidades que se apresentam. Protegido do Cura Chèlan, é convidado pelo senhor de Rênal, prefeito de Verrière, e homem de posição e poses, para ser preceptor de seus filhos. 

Desempenhando seu papel com desenvoltura e dedicação, ganha o respeito e a devoção de todos a sua volta. Divide seu tempo entre as aulas às crianças e a paixão proibida com a esposa de seu patrão. Ali aprende parte das convenções sociais, “os bons costumes”, próprias da chamada boa sociedade.

Mesmo ascendendo socialmente, faltava-lhe a fortuna. Acaba se apaixonando perdidamente pela senhora de Rênal, algo que, aparentemente ia contra os seus planos. Nesse momento suas ambições cedem um pouco em nome do amor.

Julien parte para o seminário tão logo seu romance é denunciado ao seu patrão por uma carta anônima, colocando em risco a reputação e a posição social da senhora de Rênal, sempre tida, na pequena cidade, como um espírito superior.

Mais tarde, ao deixar o seminário, por intermédio de seu protetor, e assumir o cargo de secretário na casa do Marquês de la Mole, um dos homens mais influentes, respeitados em Paris e de grande fortuna, se envolve com sua filha, Matihlde de la Mole, que a princípio o rejeita, por ele ser de classe inferior. Desenvolve um plano para conquistá-la, sendo bem sucedido em suas pretensões.

Desfecho

No final, quando tudo parece ir bem e que desposaria Mathilde, a quem julgava amar perdidamente, e à revelia do pai desta, é “denunciado” por uma carta da senhora Rênal que, movida pelo ciúme, declara ao marquês de la Mole, ter sido seduzida. Este, rompe com a filha e não aceita o casamento. O herói volta a pequena Verriére, cidade onde sua história teve início, e dispara duas vezes contra a sua antiga amante, com intenção de matá-la. Apenas um dos tiros a acerta no ombro. É condenado à guilhotina. Ao receber a visita de seus dois amores, descobre, na verdade, que sempre amou a senhora de Rênal.

Romance psicológico

Stendhal viveu aqueles anos agitados na França entre os fins do século XVIII e princípios do século XIX. Por meio de Sorel, ele discute questões políticas e sociais do período. O autor percebeu as mudanças pelas quais passava a França e expressou, por meio da arte, uma imagem dos costumes naqueles agitados anos.

Mas, acima de tudo, creio, a grande questão do romance são os conflitos psicológicos que atormentam não apenas os personagens centrais. Julien Sorel, é um personagem complexo, contraditório, em profundo conflito interior. 

A narração, em terceira pessoa, se prende muito mais às reflexões dos personagens do que propriamente às ações, o que caracteriza O vermelho e o negro como um romance psicológico. 

Dito de forma diferente, a atenção é dada não aos fatos em si, mas como as pessoas os vivenciaram. Como elas os interiorizam e refletem sobre eles, como elas agiam diante de situações concretas, negociando e tendo por base seus interesses.

O romance dá vazão aos jogos de sedução, conflitos de interesses que perturbam os personagens. 

Sorel é, não apenas ambicioso, mas também espécie de hipócrita, calculista, um estrategista nato capaz de usar de qualquer artifício para conseguir o que queria, não se importando tanto com as consequências de seus atos, numa atitude de desprezo pela sociedade no seio da qual, almeja posição. O irônico é que essa mesma sociedade é aquela que o condenará no final.

Mas Sorel não é apenas aquela figura sedutora e segura daquilo que busca. É alguém que é atormentado por um profundo complexo de inferioridade. E toda a busca é pelo reconhecimento, gloria e posição social. Suas fraquezas são denunciadas.  

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