Velho Thomaz é uma figura emblemática, dessas que vale a pena conhecer. Nasceu em 1839 e morreu, aos 81 anos, em 1920. Foi para Ipu, então cidade próspera, ainda criança.
Seu pai, natural de Santana do Acaraú, emigrou atraído pelos negócios. Era comerciante de mão cheia. Comprava e vendia animais, comprava e revendia em atacado de tudo que se possa imaginar: açúcar, aguardente, hortifrutigranjeiro, gado em pé, rapadura, cera, algodão, mamona, oiticica.
Em sociedade com mercador local, montou fábrica de beneficiar algodão quando esse produto encontrou mercados externos. Embora os negócios avançassem a partir de 1894, ano da chegada da Estrada de Ferro de Sobral à cidade, morreu, e o Thomaz, filho único, já no ramo, assumiu o controle das atividades.
Com a ferrovia, meio de escoamento e transporte, se tornou um dos maiores exportadores de algodão da Zona Norte cearense. Ergueu fábricas de beneficiar o produto e, ao final, tinha duas em Ipu, uma em Ipueiras e duas em Crateús. Em dez anos construiu império e fortuna invejáveis. Quando adoeceu, aos 65 anos, se retirou dos negócios, deixando-os a cargo do filho mais velho.
Concordava com o Frei Lourenço, conselheiro de Romeu: na adversidade há filosofia. Na doença descobriu outro mundo. Tranquilo, o que havia acumulado era o suficiente para sustentar a família pelas próximas gerações. Lamentava não ter se dedicado aos livros mais cedo. Compreendeu que o dinheiro o consumia e o demônio da ganância não o deixava ver o mundo com outros olhos, agora imprestáveis.
Por isso, costumava ler todos os dias o dia todo, sem cessar, o que arruinou sua visão. Lamentava também não ter continuado os estudos e conseguido diploma de doutor. Mas se orgulhava de dizer, para quem tivesse ouvidos, saber e ler mais do que qualquer desses bacharéis formados de hoje: tão logo estão com o diploma à mão, pensam apenas em acumular riqueza, esquecendo-se do cultivo do espírito.
Conhecia todas as obras da sua biblioteca onde passava, agora, a maior parte de seus dias. Falava com desenvoltura — e com orgulho — de qualquer das brochuras que alguém apontasse nas estantes. Entristecia-se ao perceber que poucos se dedicavam ao saber. Interessava-se por tudo, mas organizava suas leituras de maneira singular, por tema, e tinha especial preferência por romances.
Já não podendo ler com os olhos — a leitura constante os arruinara — ainda tinha ouvidos. Já não sendo possível viver sem os livros, contratou garoto da periferia para ler em seu lugar, em voz alta. Ainda tinha ouvidos.
Toda semana, sempre aos domingos, faremos, aqui, a análise das obras — uma de cada vez — do acervo da Biblioteca do Velho Thomaz. Quais livros achas tu que tinham lá?
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