Gostaria de partilhar com o leitor, se é que tenho algum, experiências vividas por mim nas últimas semanas.
Escrevo como se eu fosse uma pessoa importante, grande escritor, por exemplo, sabendo ter uma porção de leitores sedentos para ler meus apontamentos - na ilusão de saber sobre mim ou de aprender algo para a sua vida - mesmo consciente de que poucas pessoas ou ninguém se interessará pelo que escrevo, a não ser eu mesmo.
Mesmo assim escrevo, não porque acredite que outras pessoas se interessarão pelo que tenho a dizer ou possa instruí-las, diverti-las ou ensinar-lhes algo importante, mas porque escrever me faz bem, me afasta do mundo e das pessoas ao mesmo tempo em que me aproxima delas.
Está confuso?
Será esta forma de escrever estratégia retórica para prender a sua atenção a ponto de se sentir tentado a ler até o final? Mas eu não disse não ter, talvez, leitores e escrever apenas para me sentir bem?
Ultimamente tenho passado os dias preso em meus pensamentos e quase nada me entedia, a não ser o mundo real em que vivo.
Quando dou demasiada atenção a ele em minha volta sinto me tornar pessoa infeliz. Só reencontro a felicidade quando me afasto do "real concreto" (e existe um real concreto?); quando me retraio em meu quarto e busco a solidão, o silêncio; quando me sento à mesa, pego uma caneta e escrevo sobre alguma coisa, qualquer coisa, como faço agora.
Ali, no silêncio dos meus pensamentos, eu entro em um mundo tão fascinante, tão maravilhoso, a ponto de sentir ter encontrado a plenitude ansiada, pensando estar ela em algum ou outro lugar, em outras coisas e num mundo do qual hoje quero me afastar, embora saiba que jamais poderei ignorá-lo.
Com os olhos fito no papel, e no deslizar da caneta sobre ele, entro em um mundo novo, em outro mundo criado por mim mesmo, tão real quanto a vida lá de fora.
Neste momento eu sou um personagem como aqueles outros que crio, e tenho o poder de dar o destino que quiser à história, brincando de ser Deus, embora, na maioria das vezes, o desenrolar lento e final do enredo tome caminho a saltar do meu controle, como se tivesse vida própria.
A mesma sensação sinto ao ler um livro, qualquer livro. Quando o abro sou tragado para dentro de suas páginas como em um sonho que está além do meu controle.
O que me fascina não é apenas a leitura em si, mas a capacidade que este ato tem de me arrebatar do mundo em que vivo, de fazer-me esquecer, por um longo tempo, existir mundo lá fora da qual de outra forma não conseguiria desligar-me dele.
Quando me afasto do "real", demasiado palpável, sem fantasia, ainda que possamos fantasiá-lo, em que as alegrias sucedem as tristezas e vice-versa, em que os nossos medos nos impelem de ousar, nossas obrigações nos impedem de sonhar e uma cem mil coisas que nos amarram a ele, consigo viver plenamente como uma criança com os seus brinquedos, suas fantasias, seus mundos fantásticos, rodeados de monstros e super-heróis a voar, com poderes .
Desligar-me do mundo e entrar em outro plano é algo fascinante! Neste momento, encontro a "felicidade" em outro lugar, fora da realidade.
No entanto, meu caro leitor, se é que você está aí, o que me fez pensar sobre isso e mais ainda escrever sobre o que estou sentido, foi o fato de relatar a minha experiência nas últimas semanas. Não foi mesmo isso que disse no início?
O problema é que o meu pensamento é mais rápido do que a caneta a deslizar no papel. Por mais que tente não consigo controlá-la. É como se tivesse vida própria, estando além do meu controle.
Como não tenho leitores, portanto, não devo preocupar-me se o que escrevo deva ter início, meio e fim. Afinal escrevo para me sentir bem. Não foi isso mesmo que disse no início?
Afinal, não sou daqueles que gostam de enredos fáceis, curtos, com início, meio e fim. Gosto de tramas que me fazem divagar, esquecer do mundo e entrar num outro universo. E o mercado? Ora alguém iria ler romance longo? Alguém se daria ao luxo de comprar este lixo? O mercado que se dane! Estou me lixando para ele! Escrever e ler me fazem bem, é o que importa, a única coisa a contar! Já devo ter dito isso antes...
Escrito em Recife, em algum dia de 2010, levemente modificado pelas "angústias" atuais do autor.
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