Vou tentar narrar rápido essa história. O dono da banca autorizava eu e Chico (sobrinho de Veríssimo) a vender cartões postais no local. A agente comprava, vendia e dividia o lucro. Um dia chegou na banca um senhor de meia idade, bem vestido, com uma pasta preta na mão. Falou “Cadê o Chico?” Eu disse “Ele só tá aqui depois do meio dia!”
E então o homem falou: “- Olha aqui, amigo, o Chico compra os postais que vocês revendem comigo, lá na papelaria onde eu trabalho. E ele havia me dado cem reais para eu comprar novos postais, mas o preço dobrou. E eu não pude comprá-los. Então eu estou aqui para devolver o dinheiro ao Chico. Você pode recebê-lo, e repassar ao Chico?”
Dito isso, meteu a mão no bolso, tirou uma cédula de cem reais e me deu. Eu jamais poderia desconfiar que aquilo fosse um golpe! A rotina na banca continuou em sua normalidade: um entra-e-sai de pessoas, querendo comprar o Globo, Jornal do Brasil, O Dia, revista Veja, Caras, Isto É, e etecetera e tal.
Até que meia hora depois, o mesmo senhor voltou, dizendo: “- Olha, Garoto, me dá de volta aqueles cem reais, pois eu consegui que o cara lá da papelaria vendesse pra vocês os postais pelo preço antigo, só dessa vez!”
Eu não vi nenhum problema em devolver-lhe o dinheiro que o homem havia me dado. Então veio o golpe: “- Olha, deixa eu te dizer uma coisa, por que é que você não me arranja aí mais uns R$ 200,00 reais, pra que eu traga todo ele de cartões postais?”. Eu concordei que “sim” com a cabeça, ao mesmo tempo em que despachava meia dúzia de fregueses.
Então ele “dobrou a aposta”: “- Faz assim, garoto, me arranja aí trezentos reais, que eu trago logo todo esse valor em cartões postais! Vocês têm que aproveitar, pois é só dessa vez!” Disse isso e o “mané” aqui meteu a mão na gaveta, entregou trezentos reais àquele vigarista! Foi a última vez que eu o vi!
Não se passaram nem quinze minutos e eu já sabia que havia caído em um golpe! Aos poucos eu iria fazer vales em meu nome, debitando o prejuízo do golpe em meu salário. Paguei tudo em três parcelas cem reais. Nunca contei isso a ninguém!
É vergonhoso ser feito de trouxa!
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