Cícero Menês e a gangue de cabras

Cícero Menês era uma figura estranha, que convivia cotidianamente com a gente, no comércio de papai. Dizia-se que ele era “muito mão-de-vaca”, que obrigava os filhos e a esposa a passarem necessidade, mesmo tendo certo dinheiro e produtos à sua disposição. Vizinho à família Meneses havia outra família, do senhor Adécio, e as duas não se falavam, provavelmente por “intrigas de vizinhos”. Seu Adécio criava cabras, soltas nas ruas. Com o tempo os animais viraram uma “gangue de trombadinhas”, especializaram-se em invadir residências, para roubar alimento! De tudo a gangue de cabras roubava para comer: pão, farinha de mandioca, milho, feijão, arroz e biscoitos! Era um verdadeiro flagelo!

      Então, numa bela manhã de segunda-feira, estava papai, Luiz Carlota, Luiz Borges, Alfredo Ximenes e Cícero Menês conversando alegremente na bodega de papai. Menês trouxe um balde, e comprou cinco livros de milho, para alimentar suas galinhas. Deixou o balde com os cinco litros na calçada enquanto conversava.

A líder das cabras, que se chamava Matilde, se adiantou, “caiu de boca” no milho, devorando tudo com bocadas sôfregas! Só então alguém alertou ao proprietário: “Cícero, a cabra do véi Adécio tá acabando de comer o teu milho!”.

Todos correram para espantar o animal. Mas, para surpresa de todos, Menês correu na frente, e disse “Parem! Parem! Ninguém toca na cabra! Deixem ela comido!” Disse isso e pegou uma cadeira, desferindo um golpe certeiro na cabeça do ruminante, que já caiu desfalecida, esticando as canelas, e revirando os olhos!

Foi aí que papai percebeu que Cícero havia exagerado: “Vixe, Cícero, tu matou a cabra do homem!”. No que ele retruca: “Que matei que nada, João Cidade! Cabra é bicho forte! Não morre com qualquer pancadinha não!”. Dizia isso ao mesmo tempo em que “prestava socorro à sua vítima”, apoiando-a em seu colo, e dando-lhe tapas no rosto.

Enquanto isso a cabra revirava os olhos, se tremia toda, e pôs a língua para fora! Alguém disse “Tá morrendo! Vai dar o último suspiro!”. Vendo a gravidade da situação, Seu Luiz Carlota deu-lhe sua faca: “Toma, Cícero, sangra na goela, se não a carne não vai prestar pra nada!”. Menês pegou a faca, mas não teve coragem de “sangrar” o animal! Ficou paralisado de medo, com a faca em uma das mãos, e a cabra “desmaiada” na outra!

               No meio da confusão, alguém gritou: “Corre gente, vai chamar o dono da cabra, pra ele saber o que tá acontecendo aqui! No que Menês respondeu: “Não! Esperem aí! Ela vai acordar! O dono não precisa saber!”, e retomou a prestação dos “primeiros socorros” no animal: “Acorda égua do Diabo!”, e tome mais três ou quatro tapas na cara da cabra desfalecida!

Nesse ínterim, alguém avisou ao dono de Matilde: “Seu Adécio, seu intrigado, o Cícero Menês, matou sua cabra, com uma paulada na cabeça! Leve sua faca, para o Senhor sangrá-la, para aproveitar a carne!”.

A cena era hilária, mas gerou grande aflição: Cícero com a cabra no colo, tentado prestar-lhe os “primeiros socorros”, e nada do animal reagir! Foi aí que alguém gritou: “-Vixe, Cícero, lá vem o véi Adécio, com uma faca na mão, pra tomar providências!”.

Nervoso, Cícero disse: “Valha me Deus! Esse homem é doido! Vem atrás de confusão só por causa de uma cabra ladrona!” No que papai interveio: “Corre Cícero, entra na alcova, se esconde por lá com a cabra!”.

E Cícero Menês correu, com a cabra nos braços. Mas o animal acordou no meio do caminho e pulou no chão atarantada: “Eu não disse, João Cidade! Cabra é bicho duro! Não morre com qualquer pancadinha não!”.

Então o dono da cabra chegou, entrou na bodega, amarrou seu animal e saiu. Papai disse: “Toma aí, compadre Cícero, um traguinho de cana, pra gente se acalmar!”, e pingou uma dose num copo. Cícero não quis beber. Mas Seu Luiz Carlota não desperdiçou aquele precioso líquido! 

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