Rússia e China em alerta com plano dos EUA para implodir BRICS

Alvos indiretos.Xi visita Moscou durante desfile para comemorar derrota dos nazistas.Créditos: Wikipedia

As vantagens para o Ocidente da troca de regime no Irã

Em recente entrevista o presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse que seu país e a China estavam transformando o mundo sem causar comoção. Daí a importância de uma relação estratégica entre os dois vizinhos.

Tendo de lidar com sua própria guerra, na Ucrânia, Putin e assessores abandonaram o que parecia ser o papel de meros observadores nas últimas horas. A diplomacia chinesa usou palavras duras para condenar o ataque dos Estados Unidos a Teerã.

Está claro que a questão nuclear foi apenas um pretexto para o ataque. Israel se antecipou a uma rodada de negociações que estava marcada para Mascate, a capital de Omã, entre Irã e EUA. 

Trump usou falas enganosas para manter em Teerã a expectativa de que haveria negociações, falou em tomar um decisão sobre atacar em duas semanas, mas o fez de surpresa.

Troca de regime

Tel Aviv tomou a decisão de atacar, de maneira coordenada com os EUA, quando viu a oportunidade de provocar troca de regime no Irã. Não é segredo que, desde a revolução islâmica de 1979, uma das prioridades dos aiatolás é destruir Israel.

O aiatolá Khomeini, ideólogo da revolução, pregava uma alternativa ao confronto entre Ocidente e Oriente -- Estados Unidos e União Soviética -- na forma de uma comunidade islâmica.

Descrevia Israel como um implante artificial do Ocidente no Oriente Médio para fins de controle regional e focava no sionismo internacional como grande inimigo.

Benjamin Netanyahu fez carreira prometendo conter o Irã e, enfrentando uma crise política interna em Israel, optou pelo ataque agora -- não apenas para preservar seu poder, mas com o objetivo de entrar na História como o líder que eliminou uma "ameaça existencial" a Israel.

A ferrovia China-Irã.

Muro de Berlim dos BRICS

Não há sinais, ainda, de que o regime dos aiatolás corra risco de colapsar, apesar da reportagem da revista Fórum ter detectado em Teerã que está longe de ser uma unanimidade nacional.

O Irã, aliás, sempre teve uma oposição relativamente forte -- há 300 canais de comunicação contra o regime atuando a partir dos Estados Unidos e do Reino Unido, que concentram a diáspora iraniana.

O país tem uma grande classe média ocidentalizada concentrada em Teerã e enfrenta problemas econômicos derivados de um bloqueio do Ocidente que dura quase 40 anos.

O alerta em Moscou e Beijing deriva da geografia: além de dominar as águas do Golfo Pérsico, o Irã compartilha o Mar Cáspio com a Rússia. Faz fronteira com o Afeganistão e o Paquistão, que por sua vez são vizinhos da China.

Em 2021, China e Irã assinaram um acordo de parceria estratégica de 25 anos, que prevê investimentos chineses na infraestrutura do país de U$ 400 bilhões.

Beijing tem grande preocupação com acesso a matéria prima essencial para seu futuro desenvolvimento, por isso, dentro da Iniciativa Cinturão e Rota, também conhecida como Nova Rota da Seda, os chineses pretendem construir uma ferrovia que os ligue diretamente ao Irã, integrando Quirguistão, Tajiquistão e o norte do Afeganistão.

Também financiariam uma ferrovia entre Teerã e a fronteira com o Afeganistão.

A Rússia, igualmente, assinou parceria estratégica de 20 anos com o Irã, com destaque especial para compartilhamento de tecnologia.

Depois de invadir a Ucrânia e sofrer sanções ocidentais, Moscou passou a priorizar suas conexões eurasianas.

No contexto dos BRICS, que tem ênfase nas relações econômicas, Rússia e China pretendem desenvolver um grande mercado euroasiático, onde teriam vantagens competitivas com os Estados Unidos pela proximidade geográfica.

O Irã como entroncamento do projeto chinês.


Vantagens para o Ocidente

Um governo pró-ocidental no Irã, como almejam Israel e Estados Unidos, exerceria forte influência no vizinho Iraque. Washington teria hegemonia militar completa no Oriente Médio. Passaria a controlar indiretamente o estreito de Ormuz, por onde passa o petróleo iraniano que hoje abastece essencialmente a China.

Os estadunidenses teriam controle ainda maior sobre o preço internacional do petróleo, se um governo títere em Teerã aumentasse a produção. Depois de EUA e Rússia, o Irã é o terceiro maior produtor mundial, com 3% do total.

Finalmente, bases militares dos EUA no Irã ou uma forte influência sobre o governo local dariam a Washington a capacidade de monitorar mais de perto o coração do projeto chinês de integração regional e eventualmente sabotá-lo politicamente -- como aconteceu na Argentina e no Panamá.

Um dos motivos pelos quais a OTAN e os países europeus insistiram na expansão da aliança militar rumo à Rússia tem relação com o fato de que Moscou controla uma das regiões 'vazias' do planeta com maior potencial de produção mineral, a Sibéria.

Benjamin Netanyahu pode estar agindo focado em deixar seu legado na História, salvar sua carreira política e eliminar um inimigo existencial de Israel. Donald Trump aderiu à campanha militar mesmo com grande oposição de sua própria base e talvez tenha sido chantageado por Israel.

Independentemente disso, eliminar o regime dos aiatolás e instalar no Irã um aliado daria aos Estados Unidos uma vitória estratégica sem precedentes no coração do futuro mercado que China e Rússia estão desenvolvendo.

Israel poderia normalizar relações com a Arábia Saudita e ficaria à vontade para agir em seu projeto de expansão territorial às custas dos palestinos.

Os BRICS, obviamente, continuariam existindo, mas com um forte abalo em sua espinha dorsal.

FONTE: Revista Fórum

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