Pix: a nova funcionalidade que fará frente à Visa e Mastercard

 

Anunciado pelo BC, função vai facilitar ainda mais transações e pagamentos no Brasil; sistema gratuito e nacional é alvo de big techs e empresas de finanças dos EUA

Por Alice Andersen

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já tirou o Pix, sistema de pagamento eletrônico desenvolvido pelo Banco Central em 2020, da mesa de negociações com os Estados Unidos. A plataforma, elogiada por diversos países, é considerada um avanço tecnológico e de inclusão financeira no Brasil, inclusive foi tema do artigo do Nobel da Economia em contraposição ao sistema financeiro estadunidense. Em setembro, o sistema de pagamento vai dar mais um passo na funcionalidade para os brasileiros e deixar empresas de cartões de crédito incomodadas.

A nova funcionalidade é o Pix parcelado. O anúncio foi feito pelo presidente do Banco Central (BC) em junho deste ano junto ao Pix Garantido que vai possibilitar que empresas utilizem valores futuros a receber via sistema de pagamentos instantâneos como garantia para obtenção de crédito, mas a previsão é de que a última ferramenta esteja disponível apenas a partir de 2026.

A nova modalidade de pagamento parcelada vai ser uma ferramenta estratégica para impulsionar o setor varejista brasileiro, especialmente em um cenário de taxa de juros ainda elevada e permitirá que os consumidores dividam seus pagamentos em várias parcelas, oferecendo uma opção a mais diante das dificuldades geradas pelos juros altos. "Muitas pessoas questionam a taxa de juros de dois dígitos, mas, mesmo assim, o país está em pleno emprego, sendo o menor nível de desemprego na série histórica do país", disse Galípolo à época.

Quem for fazer uma compra poderá parcelar o pagamento por meio do Pix, mas o vendedor receberá o dinheiro integralmente no momento da transação. Vantagem para o cliente e para o comerciante. Segundo o Banco Central, a funcionalidade também estará disponível para a modalidade transferência. Algumas instituições financeiras já disponibilizam o Pix Parcelado, mas a modalidade só pode ser usada por clientes com cartão de crédito. Estimativas do Banco Central apontam que 60 milhões de pessoas estão fora desse grupo.

Empresas de finanças e big techs querem Pix pra si

Após reunião com representantes de grandes empresas de tecnologia, na qual foram discutidas as tarifas de 50% anunciadas por Donald Trump sobre produtos brasileiros, segundo Alckmin, as big techs demonstraram interesse em expandir o modelo para suas próprias plataformas, propondo um “Pix para todos”, ou melhor, para chamar de seu. Ficou claro que as empresas estão de olho no potencial do Pix: querem integrar suas soluções ao sistema, retirando a exclusividade gratuita do Banco Central, com a intenção de criar formas de monetizar esse acesso e transformar o serviço gratuito em fonte de lucro.

O interesse é antigo. Além de afrontar os grandes "players" do sistema financeiro transnacional, que controlam as bandeiras Visa, Mastercard e Americam Express (Amex) dos cartões de crédito, a criação do Pix pelo Banco Central, em 2020, atrapalhou os negócios da Meta, big tech de Mark Zuckerberg que controla Facebook, Instagram e o WhatsApp.

Em determinação ao Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR), Donald Trump pediu a inclusão do Pix na lista de "práticas desleais" do Brasil. "O Brasil também parece adotar uma série de práticas desleais com relação aos serviços de pagamento eletrônico, incluindo, entre outras, a concessão de vantagens aos seus serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo”, diz o texto, que não especifica quais seriam essas práticas.

No entanto, em 2023, a Meta anunciou que iria disponibilizar o Pix como ferramenta de pagamentos no WhatsApp após não conseguir emplacar apenas a marca própria, o WhatsApp Pay. O imbróglio remete ao lançamento do Pix, que foi colocado em operação pelo Banco Central do Brasil cinco meses antes do WhatsApp lançar sua plataforma de pagamentos, derrubando os planos da big tech.

Em seguida, o BC e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) iniciaram uma guerra jurídica contra Zuckerberg - apoiador confesso de Trump - para suspender o WhatsApp Pay, alegando que "naquele momento poderia trazer “danos irreparáveis ao sistema brasileiro de pagamentos, notadamente em relação à competição, eficiência e privacidade”.

Com as restrições, o WhatsApp Pay passou a realizar transações financeiros apenas em março de 2021, quando o Pix já estava em pleno funcionamento - e substituindo em grande parte os pagamentos em débito e crédito das bandeiras transnacionais. Em entrevista ao site Finsiders Brasil em março deste ano, Guilherme Horn, chefe do WhatsApp para Brasil, Índia e Indonésia, admitiu que o Pix atrapalhou os planos da Meta.

Pix na mira da MasterCard desde 2022

O ano era 2022 e o Pix já tinha se tornado uma ferramenta estável e popular para pagamentos entre brasileiros. Naquele ano, o CEO da MasterCard no Brasil, já indicava algum incômodo com o sistema de transações financeiras. Naquele ano, Marcelo Tangioni afirmou que algo deveria mudar no sistema. “O Pix é ótimo, bom para a indústria. Acho muito bacana. O que não é bacana? Estar dentro do Banco Central. Ele não pode regular e competir ao mesmo tempo”, comentou o executivo.

“Quanto mais concorrência, mais inovação você vai ter, mais busca por eficiência você vai ter e, consequentemente, existe aí uma tendência de redução de custos", afirmou. Com os recentes ataques dos EUA ao Brasil — incluindo a investigação do Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos contra o pix — fica cada vez mais claro o interesse das empresas estadunidenses de transações financeiras, como VISA e MasterCard, em mudar o sistema de pagamento.

Dados de 2025 mostram que o Pix responde por cerca de 49% das transações financeiras no Brasil, enquanto os cartões de crédito caíram para apenas 14% das operações. O volume de débito da Visa vem em declínio desde fevereiro de 2024.

Embora Visa e Mastercard ainda registrem crescimento absoluto no número de transações, o avanço é lento comparado ao Pix, que expandiu mais de 50% no último ano. A migração de transações para o sistema gratuito do BC impacta as receitas das empresas, que dependem de taxas sobre operações com cartões. Com a chegada da gigante chinesa UnionPay ao mercado brasileiro, anunciado recentemente, as bandeiras estadunidenses nos cartões ficam a cada dia mais ameaçadas.

FONTE: Fórum

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