Dólares de Pequim salvaram Milei do colapso; EUA exigem voto

Por Plínio César Coelho*

Segundo o articulista, a China, o gigante "comunista" que Milei prometeu isolar, demonstrou neste momento uma política externa de estabilidade e interesse sólido, não de imperialismo clássico.

O dilema financeiro da Argentina, sob o ultraliberal Javier Milei, expõe um contraste fundamental entre as políticas de apoio global, tocando na delicada questão do imperialismo e da soberania nacional.

Enquanto a China agiu em um molde de pragmatismo estratégico que evitou a intervenção nas reformas domésticas, os Estados Unidos condicionaram sua ajuda a um alinhamento político e ideológico que evoca a sua longa história de imposição na América Latina.

A China, o gigante “comunista” que Milei prometeu isolar, demonstrou neste momento uma política externa de estabilidade e interesse sólido, não de imperialismo clássico.

Ao concordar em manter o swap cambial — os US$ 5 bilhões que evitavam a moratória imediata e o caos cambial argentino — Pequim priorizou a continuidade financeira e a preservação de sua posição estratégica como credora e parceira comercial.

A política chinesa foi notavelmente desprovida de condicionalidades políticas ou ideológicas explícitas para o governo de Milei.

A China não exigiu que Milei mudasse seu plano de governo ultraliberal, nem impôs reformas domésticas específicas, nem forçou alinhamento ideológico. Foi um ato transacional: garantir a estabilidade do devedor e, por tabela, reforçar sua influência regional.

Nesse sentido, a atitude chinesa se distancia do padrão imperialista do século 20 e 21, que utiliza a alavancagem financeira para ditar a organização interna de países soberanos.

O apoio chinês buscou apenas manter o status quo de sua influência, não derrubar ou reestruturar o regime político.

Os EUA: condicionalidade e a retomada da intervenção política.

Em flagrante contraste, a ajuda em negociação com os Estados Unidos está diretamente ligada a um alinhamento ideológico e uma vitória política doméstica, um método que ressoa com a política externa historicamente intervencionista dos EUA.

O presidente Donald Trump não hesitou em condicionar a generosidade da ajuda dos EUA à vitória da coalizão de Milei nas eleições legislativas. Tal exigência vai muito além da garantia de que o país pagará suas dívidas; ela exige um resultado eleitoral específico e a continuidade de um projeto ideológico que agrada a Washington.

O secretário do Tesouro dos EUA, ao justificar a ajuda, enquadra a Argentina como um país que está “lutando contra 100 anos de má política econômica”, alinhando-se totalmente à retórica de Milei.

Essa solidariedade ideológica se combina com um objetivo geopolítico explícito: “tirar a China da Argentina”.

A política dos EUA, ao vincular a assistência financeira à imposição de uma agenda política e à subordinação a um interesse geopolítico maior (o combate à influência chinesa), demonstra uma clara intenção de intervir na política interna argentina e limitar sua soberania na escolha de parceiros internacionais.

Essa condicionalidade, onde o apoio é usado como ferramenta para determinar o sucesso de um aliado político e ditar suas relações externas, encaixa-se no padrão de política imperialista e intervencionista que caracterizou a atuação dos Estados Unidos em grande parte do século 20 e que se renova no 21.

Em resumo, a China ofereceu um “oxigênio financeiro” pragmático e não intervencionista, salvando o presidente que a despreza.

Os EUA, por sua vez, oferecem uma “ajuda condicional”, exigindo fidelidade política e alinhamento ideológico, demonstrando que, para Washington, a aliança financeira deve garantir a supremacia política e geopolítica na região.

*O autor é é economista, professor-adjunto da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), mestre em administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e doutorando em ciências empresariais e sociais na Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales (Uces), Buenos Aires, Argentina.

FONTE: BNC

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