Ciro Nogueira cumpre a promessa que fez a investidores quando participou de evento no auditório do BTG
Em contraponto à proposta do governo de isentar de Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil, o PP (Partido Progressistas) apresentou emenda que reduz a alíquota do imposto mínimo sobre a renda dos milionários de 10% para 4%. Isso faria cair em cerca de 80% o potencial de arrecadação da medida, de R$ 25,8 bilhões para R$ 5,5 bilhões, segundo os economistas Sérgio Gobetti e Frederico Dutra, ouvidos pela jornalista Adriana Fernandes, da Folha de S. Paulo.
Com isso, o governo teria um
rombo na arrecadação planejada e seria obrigado a buscar novas — e difíceis —
fórmulas para sustentar a isenção do IR para a nova faixa de até R$ 5 mil.
Os especialistas firmam que a
proposta apresentada pelo presidente do PP, senador Ciro Nogueira, sob a
alegação de proteger pequenos e médios empreendedores, beneficia na verdade um
grupo reduzido de empresários ricos do Simples.
Eles representam no máximo 0,64%
das empresas desse regime simplificado de tributação. A emenda também contempla
outros 40 mil milionários que, embora atingidos pelo imposto mínimo, pagariam
muito menos do que o inicialmente previsto pelo Executivo.
Dessa forma, Nogueira cumpre a
promessa que fez a investidores quando participou de evento no
auditório do BTG, no início do mês. Na ocasião, ele falou a
empresários, investidores e representantes do setor financeiro, público
diretamente beneficiado pelo atual modelo de tributação.
Uma das participantes expressou
preocupação com uma eventual tributação mais progressiva: “Aqui está todo mundo
taxado acima dos 50 mil”, disse, em referência às propostas que miram faixas
mais altas de renda. A frase evidenciou o temor da elite econômica com
possíveis mudanças nas regras. Ao ser questionado, o senador concordou que era
preciso “ver a questão da compensação”, sem indicar de onde sairiam os recursos
para bancar a isenção na base.
O estudo de Sérgio Gobetti e
Frederico Dutra alerta que o modelo sugerido pelo PP inviabiliza o
objetivo da minirreforma de recuperar a progressividade (quem ganha mais paga
proporcionalmente mais) do Imposto de Renda e reduz significativamente o
potencial de arrecadação da medida.
O projeto de imposto mínimo com
uma alíquota de até 10% para quem ganha acima de R$ 600 mil por ano foi
encaminhado ao Congresso pelo governo para compensar a perda de arrecadação com
a elevação da faixa de isenção do IRPF (Imposto de Renda da Pessoa Física) para
R$ 5.000 por mês.
Além de ampliar de R$ 600 mil
para R$ 1,8 milhão o limite acima do qual o imposto mínimo seria cobrado, o
partido oposicionista propôs uma alíquota progressiva, que começa em 4% e chega
a 15% para quem ganha acima de R$ 1 bilhão anuais.
Crédito: Arquivo
Segundo a nota técnica do
Observatório de Política Fiscal do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia
da Fundação Getúlio Vargas), se a alíquota crescer linearmente entre R$ 1,8
milhão e R$ 1 bilhão, só ultrapassaria os 10% de tributação quem hoje ganha
acima de R$ 546 milhões.
Pelos cálculos de Gobetti e
Dutra, menos de 30 pessoas no Brasil ganham mais de R$ 546 milhões anuais e
estariam sujeitas a pagar mais pela proposta do PP, enquanto 99,9% dos
milionários pagariam bem menos do que os 10% fixos propostos pelo governo.
Para pessoas com ganho de até R$ 20
milhões anuais, por exemplo, os economistas estimam que a alíquota do imposto
mínimo não passaria de 4,2%.
“Sob pretexto de proteger os
pequenos e tributar mais os bilionários, a proposta do PP está aliviando a
situação da quase totalidade dos milionários brasileiros e inviabilizando a
melhora na curva da progressividade”, diz Gobetti à Folha.
Segundo ele, não haveria razões
para elevar o patamar inicial de sujeição ao “imposto mínimo” com objetivo de
proteger os pequenos empreendedores porque apenas 0,64% dos empresários do
Simples têm lucros superiores aos R$ 600 mil anuais.
Os economistas também criticam a
ideia do relator do projeto, Artur Lira (PP-AL), de desengavetar o PL aprovado
em 2021 pela Câmara dos Deputados, que previa a volta da tributação de
dividendos, mas com uma faixa de isenção muito ampla, que liberaria de taxação
os sócios de todas as empresas com faturamento de até R$ 4,8 milhões anuais.
O projeto, enviado pelo então
ministro da Economia, Paulo Guedes, foi desidratado e abriu uma série de
exceções. Depois de aprovado pela Câmara com larga margem de votos favoráveis,
acabou não avançando no Senado. Na época, Lira era o presidente da Câmara.
Outro alvo da análise dos
economistas é a proposta do PP de compensar parte da perda de arrecadação com a
elevação da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) dos grandes
bancos, antevendo que isso poderá encarecer o custo do crédito para
consumidores e empresários ou afetar milhares de pequenos investidores e não
apenas os banqueiros.
Procurada
peço jornal, a assessoria de Ciro Nogueira não respondeu o pedido para comentar
os resultados do estudo. O PP ainda não formalizou oficialmente a emenda e nem
apresentou a memória de cálculo que sustenta a proposta apresentada. O
Ministério da Fazenda também não quis comentar.
FONTE: ICL
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